Distância entre taxas
de reprovação e aprovação caiu de 17 para 10 pontos, em primeira melhora após
sequência de reveses iniciada em julho de 2024
Após uma
sequência de quedas, a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) reagiu em meio ao embate com o presidente dos EUA, Donald Trump, e a
campanha de taxação de super-ricos impulsionada por sua base, mostra pesquisa
Genial/ Quaest divulgada nesta quarta-feira (16). A taxa de desaprovação
do governo recuou numericamente de 57% para 53% em relação à medição anterior,
de 4 de junho. O percentual dos brasileiros que aprovam o governo passou de 40%
para 43%. É a primeira melhora na avaliação depois de uma sequência de reveses
iniciada em julho de 2024.
Apesar de
as variações entre os levantamentos estarem dentro da margem de erro de dois
pontos percentuais para mais ou para menos, a distância entre as duas taxas
caiu de 17 para 10 pontos. O instituto entrevistou 2.004 pessoas
presencialmente entre os dias 10 e 14 de julho, de forma a capturar a reação da
opinião pública ao “tarifaço” anunciado pelo presidente americano contra
produtos brasileiros no dia 9. O nível de confiança na amostra, ou seja, a
chance de os resultados refletirem a realidade nesses parâmetros, é de 95%.
A pesquisa mostra ainda que o percentual dos que consideram o governo como negativo passou de 43% para 40%. Já os que se veem a gestão de forma positiva foram de 26% para 28%, mesmo índice dos que avaliam o governo como regular.
A perspectiva de reversão da crise de imagem do governo Lula, de acordo com os recortes da pesquisa, ocorreu sobretudo entre eleitores mulheres, de classe média, meia-idade e com posicionamento político mais de centro.
As taxas
permaneceram praticamente idênticas entre quem ganha até dois salários mínimos,
demonstrando dificuldade em avançar entre os mais pobres. Mas o petista avançou
entre brasileiros que recebem de dois a cinco salários mínimos, faixa de renda
que seria beneficiada, por exemplo, com a proposta de isenção do Imposto de
Renda.
— A
recuperação do governo aconteceu na classe média, com maior escolaridade, no
Sudeste. São os segmentos mais informados da população, que se percebem mais
prejudicados pelas tarifas de Trump, e que consideram que Lula está agindo de
forma correta até aqui, por isso passam a apoiar o governo (Felipe Nunes, diretor da Quaest)
Essa adesão
de fora do público cativo do PT também está relacionada com algumas propostas
do governo, na opinião de analistas.
— A
campanha da taxação dos super-ricos teve incidência, principalmente em outros
segmentos que não as elites. Entre os não beneficiários do Bolsa Família, caiu
muito mais a desaprovação. Ou seja, existe uma expansão para fora da bolha —
analisa a cientista política Mayra Goulart, professora da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ).
Cerca de
dois terços dos entrevistados concordam que os mais ricos devem pagar mais
impostos para diminuir o peso dos tributos aos mais pobres, segundo a pesquisa
— e 75% se mostram a favor de ampliar a faixa de isenção do IR, ainda que esse
percentual caia para 60% quando a pergunta envolve a elevação do mesmo imposto
aos “super-ricos”, assim denominados no questionário. O mote de “ricos contra
pobres” também não é bem visto pela maioria (53%).
No caso do
“tarifaço”, 44% veem Lula “mais certo” no embate com Trump, contra 29% que
pensam o mesmo sobre o bolsonarismo. Essa vitória do governo se repete,
inclusive, entre quem diz não ter posicionamento político, seja de esquerda ou
de direita. Em contrapartida, quase oito a cada 10 brasileiros acreditam que o
revés anunciado pelo presidente americano prejudicará de alguma forma as suas
vidas e 84% dos entrevistados gostariam que governo e oposição trabalhassem
juntos para enfrentar o problema.
A pesquisa
anterior da Genial/Quaest havia sido feita poucos dias depois de o ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, anunciar a elevação do Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF) e recuar parcialmente de alguns trechos, sob fortes críticas.
A avaliação negativa do governo colocou Lula no mesmo patamar de Bolsonaro em
momentos similares do mandato, quando o rival enfrentava os desdobramentos da
CPI da Covid, em junho de 2021.
De lá para
cá, o presidente Lula editou as medidas provisórias relativas ao imposto e
sofreu uma grave derrota política no Congresso, com a derrubada dos decretos e
a posterior judicialização do caso no Supremo. O governo, contudo, conseguiu
emplacar nas redes sociais uma campanha por justiça tributária ancorada no
discurso de “ricos contra pobres”, que respingou no Legislativo. Além disso,
teve predominância no debate sobre a tarifa de 50% anunciada por Trump ao
exaltar o espírito de “soberania nacional”.
A
expectativa no Palácio do Planalto é que o cenário demonstre ter sido superada
definitivamente a crise de imagem gerada pelo escândalo das fraudes nas
aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com
suspeitas de descontos indevidos por parte de associações cadastradas no
sistema que podem somar R$ 6,3 bilhões, entre os anos de 2019 e 2025. O governo
federal anunciou na semana passada a abertura do prazo de adesão das vítimas do
esquema a um acordo de ressarcimento dos valores, com previsão de pagamento das
parcelas ainda este mês.
(de O Globo)
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