Tarcísio e Centrão querem melar julgamento no STF para livrar ex-presidente da cadeia
Por Bernardo Mello Franco
No início do julgamento de
Jair Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes lembrou que anistiar
golpistas não costuma ser boa ideia. Os inimigos da democracia barganham o
perdão, voltar a conspirar e esperam a chance de atacar novamente.
“A história nos ensina que a impunidade, a omissão e a covardia não são opções para a pacificação”, disse Moraes. “A pacificação do país depende do respeito à Constituição, da aplicação das leis e do fortalecimento das instituições”, acrescentou.
O Brasil tem uma longa lista de golpes e quarteladas. Quando dão certo,
os vitoriosos repartem os cargos se proclamam revolucionários. Quando
fracassam, os derrotados negociam um acordão e voltam para casa sem ser
incomodados.
Juscelino Kubitschek perdoou os militares que sequestraram um avião da
FAB com armas e explosivos para tentar impedir sua posse. Em 1964, os
revoltosos conseguiram chegar ao poder. O ex-presidente teve os direitos
políticos cassados e foi despachado para o exílio.
A impunidade dos torturadores da ditadura abriu caminho à ascensão de
Bolsonaro. Herdeiro dos porões, ele tentou desmontar a democracia que o elegeu.
Agora seus aliados usam a velha conversa da pacificação para tentar livrá-lo da
cadeia.
A articulação ganhou força nos últimos dias. Na sexta-feira, Tarcísio de
Freitas disse que o perdão a Bolsonaro seria seu “primeiro ato” se eleito
presidente. Ontem ele desembarcou em Brasília para convencer o Congresso a
fazer o serviço em seu lugar.
O Centrão parece ter abraçado a ideia. O deputado Arthur Lira, que ainda
dá as cartas na Câmara, foi visitar Bolsonaro na prisão domiciliar. Seu
afilhado Hugo Motta avisou que deve pautar o tema assim que o Supremo bater o
martelo. Na prática, isso significaria jogar no lixo a decisão a ser tomada
pela Corte.
O bolsonarismo sempre tratou o tribunal como inimigo. Na
campanha, ameaçou fechá-lo com “um soldado e um cabo”. No governo, hostilizou
ministros que não colaboraram com seu projeto autoritário. A campanha de ódio
culminaria na invasão violenta de 8 de janeiro de 2023.
Agora a tática mudou: a turma quer subjugar o Supremo com um golpe de
terno e gravata.
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